quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A propósito da peregrina ideia de supressão do Museu Nacional de Arqueologia

A propósito da peregrina ideia de supressão do Museu Nacional de Arqueologia



Bem, não há ideia que, do ponto de vista doutrinário, não seja válida como proposta de reflexão e ponderação. E se não houver ideias novas, mesmo que venhamos a verificar que não têm nem tinham qualquer sentido ou oportunidade, ficaremos circunscritos às velhas, que foram, no acto e tempo da sua formulação, novas.


Vem isto a propósito do retomar da questão no âmbito de uma troca de intervenções em archport a propósito da forma como se encontram expostos os monumentos epigráficos recolhidos no Museu de Idanha.


Não sendo esse o propósito desta breve intervenção, devo exprimir o meu apoio à ideia de destacar, através de pintura da cavidade de incisão dos caracteres, o texto. Nem compreendo que critério pressupostamente fundamentalista o impediria. Acrescentaria que na época da sua execução as cavidades incisas correspondentes aos caracteres deviam ser, em muitos dos casos, preenchidas com betume, colorido com pigmentos, metodologia a que se recorreria nos séculos XVI, XVII e XVIII. Mas esta é outra questão para outra oportunidade.


Porque a matéria extravagou para outra, a da supressão do Museu Nacional de Arqueologia. Cerca de um mês após se saber que o seu actual Director fora reconduzido no cargo. Pelo que o assunto parece assumir duas vertentes.


Uma, política e circunstancial, relaciona-se, do meu ponto de vista, com efemeridades políticas. Seja: uma vez reconduzido no cargo um dos mais acérrimos opositores à desinstalação do Museu da sua actual sede, sem um consistente programa de reinstalação, pois então suprima-se, fica o assunto arrumado, com os espólios empacotados na Cordoaria, à espera que os museus regionais e locais, na maioria moribundos, os possam realojar.


Outra vertente entronca numa doutrina muito antiga, que reflecte sobre a oportunidade e o sentido dos museus nacionais.


E esta questão, sim, tem toda a legitimidade, como proposta de reflexão capaz de produzir novas doutrinas e práticas no domínio da museologia e da gestão dos equipamentos museológicos.


Pretendo contribuir de forma estruturada para o desenvolvimento do tema. E fá-lo-ei estruturado por dois tópicos:


A reinstalação do Museu Nacional de Arqueologia não pressupõe necessariamente a alienação do espaço de referência onde permanece instalado desde 1906, aberto ao público, desde 1900, afectação do edifício. Pressupõe a afectação de novas instalações operacionais que lhe permitam desempenhar e reforçar o seu papel.


O Museu Nacional de Arqueologia não vale pelos espólios que alberga. Vale como instituição, como referência indelével e axial na História da Arqueologia em Portugal. Como já o afirmei, é património cultural material e imaterial. Como símbolo e insígnia, a ocupação do seu domínio no Mosteiro dos Jerónimos deve ser considerado património imaterial da História da Arqueologia em Portugal.


Que o Museu Nacional de Arqueologia não devia ser o único e singular repositório não só de espólios materiais, mas também de referências imateriais, está subjacente a um processo de diligências e medidas concretas que se consubstanciam entre os anos de 1971 e 2001.


O Museu Nacional de Arqueologia não é necessariamente um agressor dos anseios de uma consistente musealização de proximidade, que refira a cultura arqueológica aos seus tópicos de referência e procedência. Só o reforço programado e consistente da rede nacional de museus permitirá, no futuro, redefinir o papel insubstituível do Museu Nacional de Arqueologia.

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