domingo, 19 de abril de 2009

O tesouro de Baleizão. Um paradigma.


O tesouro de Baleizão. Um paradigma.
A fíbula Bragança. Um arquétipo
Na Primavera de 2007 o ambiente arqueológico e museológico espanhol, nomeadamente madrileno, congregou-se em torno da exposição El Heroe y el Monstro, estruturada pela presença de um arquétipo tópico da arte e joalharia ibérica, para o efeito cedida pelo British Museum. O contexto constituiu o pretexto para a reunião no Museu Arqueológico de Madrid de 83 referências de excelência na arte antiga pré-romana ibérica.
Se há referência que congrega em si toda a complexa problemática que respeita à creditação e atribuição de um objecto de arte, a Fíbula Bragança constituiu-se sem dúvida, em nosso entender, no arquétipo por excelência.
Na página seguinte deste blog, deixamos o link para uma das obras mais virulentas, mas também uma das que mais estruturada e sinteticamente aborda a questão da autenticação do objecto de arte em referência aos dispositivos que actualmente se encontram disponíveis para superar as metodologias tradicionais de análise, colocando de resto, várias questões que dizem respeito à análise do objecto arqueológico, ou passível de uma abordagem recorrente da arqueologia, sem contexto, Paul Craddock, 2007, Scientific investigation of copies, fakes and forgeries, Butterworth-Heinemann, London.
Sucessivamente exposta a polémicas e reponderações, centradas na análise da coerência estilística e da hermenêutica iconográfica, a confrontação dos dados adquiridos pelas análises laboratoriais em várias sedes independentes confirmou conclusivamente a sua autenticidade, no que respeita à sua atribuição cronológica, Século III AC.
O campo que resta em aberto é a sua presumida procedência, seja a Península Ibérica, mais propriamente o alto Guadalquivir. As análises estilísticas continuam a prevalecer na polémica estritamente respeitante a esta questão. A mobilização que a recente exibição em Madrid congregou em seu torno transformou-se num episódio difícil de superar, no que respeita à reclamação da comunidade científica e cultural espanhola, que assumiu o objecto como património da cultura peninsular, a mais insigne realização da ourivesaria, ou joalharia de tradição ibérico-tartéssica.
Pessoalmente, talvez em contra-corrente, colocaríamos algumas reservas em relação à linearidade dessa atribuição. Tais reservas seriam, no contexto das questões que estamos a abordar, irrelevantes.
Ora, o mais substancial que pretendemos pôr em relevo relativamente a este objecto e ao seu valor apelativo, é justamente a sua história recente. O objecto foi pressupostamente adquirido por Fernando de Saxe-Coburgo, Príncipe Consorte e cônjuge da Rainha Dona Maria II, e nada se sabe acerca da procedência. Tem depois, a partir de 1941, data do falecimento da Princesa de Bragança nos Estados Unidos da América, um itinerário de mercado bem documentado, que se conclui com a aquisição pelo Museu Britânico.
Sujeito a consecutivos episódios de rejeição, firmados na hipótese de pressupostas incoerências estilísticas, foi conclusivamente creditado através da mobilização de dispositivos laboratoriais inquestionáveis.
Como objecto de arte, é sem dúvida das mais apelativas realizações de ourivesaria, ou joalharia, da antiguidade, ombreando com as mais consagradas realizações helénicas e etruscas.
Pode a arqueologia rejeitá-lo como objecto do seu alcance disciplinar, ou recorrente do seu alcance disciplinar, com a alegação do argumento de que se trata de um objecto sem referências a um contexto arqueológico de exumação?

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